Filmes: O Espetacular Homem-Aranha (2012)

Gênero: Ação
Duração: 136 min.
Origem: EUA
Direção: Marc Webb
Roteiro: Alvin Sargent, James Vanderbilt, Steve Kloves
Produção: Avi Arad, Matthew Tolmach, Laura Ziskin

Em 2007, Homem-Aranha 3, um dos filmes mais aguardados dos últimos tempos, chegou aos cinemas e se estabeleceu também como uma das maiores decepções que o Cinema já teve. E não teve perdão para esse deslize: a Sony decidiu que era hora de renovar o Homem-Aranha no Cinema. Chamar um novo diretor e elenco era até compreensível, mas eles foram além e quiseram recontar a origem do herói.

Daí para frente, passou a ficar difícil acreditar que a coisa pudesse dar certo…

A ideia de reiniciar a franquia, desde sempre, soava estúpida. Se o filme tivesse sido ruim e fugisse totalmente do propósito do herói (como aconteceu com o Hulk, por exemplo), era uma coisa. Mas Homem-Aranha é fantástico, foi elogiado por público e crítica e contou a origem do personagem no Cinema da forma mais competente possível. E isso em 2002, há pouco mais de 10 anos.

Na verdade, dá pra deixar até o tempo de lado e pensar que o Aranha é o herói mais popular da Marvel e provavelmente o herói mais popular dos quadrinhos depois do Superman. Ou seja, quem não conhece sua origem? Com isso, a ideia principal de O Espetacular Homem-Aranha já o invalida um pouco, pois não há absolutamente nada que justifique uma necessidade de recontar uma história que até quem nunca viu nenhum filme do herói já conhece. E o pior é que gastam mais de quarenta minutos só com isso.

Mas a questão vai além de contar de novo algo que vimos há poucos anos atrás. O maior problema é que não apenas contam tudo novamente, como contam de uma forma terrível. A grande beleza da história criada por Stan Lee é que nada acontece aleatoriamente. Peter Parker é um rapaz do qual todo mundo julga já saber o que esperar, por ser nerd e tímido e, ao ganhar poderes dos quais não queria, é obrigado a amadurecer e resolve defender a cidade e as pessoas nela, para tentar compensar o fato de que não foi capaz de fazer isso por uma pessoa que ele amava e que era seu maior exemplo moral (Tio Ben, pra quem não entendeu). Peter vira o Homem-Aranha para tentar alcançar o homem que, sem a máscara, ele não conseguiu ser quando precisou.

Todo esse lado simbólico é completamente destruído nesse reboot. Aqui, Peter Parker é um skatista moderninho, bate de frente com o valentão da escola, é meio inconsequente e invade organizações privadas de forma ousada. Não bastasse a descaracterização do personagem em si, sua importância e ligação com todos os outros mata o elemento mais crucial para ele: a identificação com o espectador. Peter é filho de um casal que trabalhava com o cientista Curt Connors (que viraria o vilão Lagarto no futuro, a-ha!), estudando aranhas (a-ha!!). E Gwen, interesse amoroso de Peter, é estagiária do mesmo Dr. Connors (a-ha!!!) e filha do homem mais importante da cidade e lógico, ele quer prender o Aranha a qualquer custo (A-HA!!!).

Nessa tentativa pífia de fazer tudo parecer amarrado, a impressão que ficou é que Peter é um descendente de Neo, um rapaz escolhido pelo destino para virar o Homem-Aranha e salvar Nova York. Ou seja, lá se foi a ideia de um rapaz comum que de repente se vê diante de possibilidades extraordinárias com poderes incríveis. Foi-se a identificação com o espectador, já que ninguém no mundo é o centro do universo como Peter parece ser. Só fiquei esperando a revelação de que no passado o pai de Peter teve um caso com a mãe de Gwen e os dois são irmãos ou algum absurdo do tipo, para tornar tudo ainda mais forçadamente interligado.

E se a ideia de usar o Lagarto como vilão parecia boa a princípio, já que o Dr. Curt Connors foi uma presença constante na trilogia de Sam Raimi e merecia ser aproveitado dessa maneira, na prática, nem isso deu certo, já que o roteiro (escrito por três pessoas – James Vanderbilt, de Zodiáco, Alvin Sargent de Homem-Aranha 2 e Steve Kloves da franquia Harry Potter – o que raramente funciona, ainda que os três sejam excelentes) transforma o personagem numa bagunça sem sentido. No começo, é a clássica ideia do Médico e o Monstro, depois vira um transtorno bipolar. Pior que isso, só o fato de que o lado trágico do vilão, tão presente nas HQs, é explorado de forma pobre, o que o torna alguém indiferente para o espectador (não que dê para se importar com qualquer outro personagem neste filme).

Mesmo pecando tanto, este reboot de Homem-Aranha não chega a ser completamente desastroso. As escolhas para o elenco foram todas muito acertadas. Emma Stone está excelente como Gwen Stacy, é encantadora e divertida como a personagem dos quadrinhos, além, é claro, de estar absurdamente bonita. Andrew Garfield tinha tudo para ser um Peter Parker melhor que Tobey Maguire, mas como já disse antes, o roteiro não colaborou muito para isso.

Martin Sheen ficou perfeito como Tio Ben (ainda que sua morte, momento-chave da origem do Aranha, seja mostrada pelo diretor Marc Webb de uma forma preguiçosa e distante) e Sally Field é talentosa e poderia render muito, mas sobra pouco espaço para Tia May no filme (algo lamentável, já que na trilogia de Raimi ela é, assim como nos quadrinhos, uma das peças centrais para a evolução do protagonista).

Quanto aos outros dois nomes do elenco, Rhys Ifans (Dr. Connors/Lagarto) faz as vezes de Willem Defoe (Norman Osborn nos primeiros filmes) e Alfred Molina (o Dr. Octopus) como a figura paterna para Peter que de repente se torna um grande vilão que o mesmo Peter, como Homem-Aranha, deve combater, em só uma das inúmeras repetições de ideias da trilogia de Sam Raimi, e Denis Leary (Capitão Stacy) surge para substituir J. Jonah Jameson como o homem comum que quer ver o Aranha sendo preso, afinal, vai ser completamente impossível achar um ator melhor que J.K. Simmons para interpretar o chefe do jornal Clarim Diário.

Além disso, vários momentos com o Homem-Aranha em ação quase fazem valer o filme. Sua primeira ação como o super-herói, contra um ladrão de carros, evoca o lado extrovertido do personagem, cheio de piadinhas sarcásticas para provocar o ladrão, algo pelo qual ele sempre foi famoso nos quadrinhos, mas que nunca teve muito espaço nos filmes anteriores (o acerto no entanto, se resume a essa cena, já que depois de despejar uma tonelada de piadas em cima do bandido, ele não faz mais nada parecido com mais ninguém no filme).

Há também a melhor cena do filme, com o herói tentando salvar uma criança, um belo momento muito bem dirigido por Webb, que parece sugerir que a partir daí, teremos uma virada no personagem, que até aquele momento tinha virado o Aranha por vingança (e isso também, diga-se de passagem, beira ao ofensivo).

Tecnicamente, como já era de se esperar, o filme é ótimo. Os efeitos visuais são realmente impressionantes e os passeios do super-herói pelos céus de Nova York são de encher os olhos (não vi em 3D, mas se a tecnologia foi bem utilizada, esses momentos devem ter ficado incríveis) e estão mais realistas do que nunca. Os movimentos do herói soam naturais ao mesmo tempo em que seus malabarismos pelos céus soam impossíveis como nos quadrinhos, rendendo belas cenas. O Lagarto, personagem totalmente digital, é muito bem realizado (a maquiagem em Ifans nos momentos em que este sedeixa dominar pela criatura também é impecável) e as sequências de ação são excelentes, não devendo em nada para os filmes anteriores (que tinha sequências de ação espetaculares).

O mesmo não pode-se dizer da trilha sonora de James Horner, preguiçosa, irrelevante no filme e com momentos até um pouco vergonhosos (aquela tentativa de criar suspense na cena de Gwen escondida do Lagarto beira ao humor involuntário). Como é simplesmente impossível assistir ao filme sem lembrar e comparar com os anteriores, chega até a dar saudades dos ótimos temas que Danny Elfman criou para o herói na trilogia original.

Apesar dos poucos bons momentos (já citados) e de ter uma das melhores e mais divertidas participações de Stan Lee entre todos os filmes da Marvel, pouco se salva de O Espetacular Homem-Aranha. Na tentativa de fazer um reboot, tudo o que conseguiram foi repetir vários dos temas que já eram presentes nos filmes anteriores numa história aborrecida e que tirou todo o diferencial do herói que, mesmo tendo super-poderes, era o mais humano e “real” entre todos os personagens de HQ.

No fim das contas, a sensação é que a única coisa realmente espetacular disso tudo foi a burrice de querer começar de novo uma franquia conhecida por toda a nova geração…

Nota: 4

7 comentários sobre “Filmes: O Espetacular Homem-Aranha (2012)

  1. Não gosto muito de Sam Raimi como diretor, o personagem de Peter Parker nunca evolui nos filmes dele, na verdade ele parece ficar cada vez mais merda. Não achei esse novo filme ótimo mas pode ficar bom no futuro…

  2. Assisti sim e… consegui de boa, já que nos anteriores peter não evolui não consegue agir é preso, não consegue ser verdadeiro com quem ele acredita ser seu melhor amigo…é muito chato…é claro que não tem como comparar…mas esse homem aranha é mais vivo ele demonstra que tem personalidade, que esta disposto a defender aquilo que ele acredita ser o certo e isso a gente vê na cena em que o garoto nerd enfrenta sim o valentão da escola e nâo se esconde como certamente o anterior faria. é apenas o que eu vi.

  3. Eu prefiro mais a trilogia do Sam Raimi do que essa porcaria de filme do novo homem aranha

  4. sinceramente acho uma falta de profissinalismo da Sony investindo alto num filme que acaba sendo um fiascop

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